quarta-feira, 27 de abril de 2011

A menina e o pássaro encantado


Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo.
Ele era um pássaro diferente de todos os demais: era encantado.
Os pássaros comuns, se a porta da gaiola ficar aberta, vão-se embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades… As suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava. Certa vez voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão…
— Menina, eu venho das montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco do encanto que vi, como presente para ti…
E, assim, ele começava a cantar as canções e as histórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.
Outra vez voltou vermelho como o fogo, penacho dourado na cabeça.
— Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga. As minhas penas ficaram como aquele sol, e eu trago as canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes.
E de novo começavam as histórias. A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isto voltava sempre.
Mas chegava a hora da tristeza.
— Tenho de ir — dizia.
— Por favor, não vás. Fico tão triste. Terei saudades. E vou chorar…— E a menina fazia beicinho…
— Eu também terei saudades — dizia o pássaro. — Eu também vou chorar. Mas vou contar-te um segredo: as plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios… E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera do regresso, que faz com que as minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudade. Eu deixarei de ser um pássaro encantado. E tu deixarás de me amar.
Assim, ele partiu. A menina, sozinha, chorava à noite de tristeza, imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa dessas noites que ela teve uma ideia malvada: “Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá. Será meu para sempre. Não mais terei saudades. E ficarei feliz…”
Com estes pensamentos, comprou uma linda gaiola, de prata, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera. Ele chegou finalmente, maravilhoso nas suas novas cores, com histórias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu. Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola, para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz.
Acordou de madrugada, com um gemido do pássaro…
— Ah! menina… O que é que fizeste? Quebrou-se o encanto. As minhas penas ficarão feias e eu esquecer-me-ei das histórias… Sem a saudade, o amor ir-se-á embora…
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas não foi isto que aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ficando diferente. Caíram as plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio: deixou de cantar.
Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava, pensando naquilo que havia feito ao seu amigo…
Até que não aguentou mais.
Abriu a porta da gaiola.
— Podes ir, pássaro. Volta quando quiseres…
— Obrigado, menina. Tenho de partir. E preciso de partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro de nós. Sempre que ficares com saudade, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudade, tu ficarás mais bonita. E enfeitar-te-ás, para me esperar…
E partiu. Voou que voou, para lugares distantes. A menina contava os dias, e a cada dia que passava a saudade crescia.
— Que bom — pensava ela — o meu pássaro está a ficar encantado de novo…
E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos, e penteava os cabelos e colocava uma flor na jarra.
— Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje…
Sem que ela se apercebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado, como o pássaro. Porque ele deveria estar a voar de qualquer lado e de qualquer lado haveria de voltar. Ah!
Mundo maravilhoso, que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama…
E foi assim que ela, cada noite, ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento: “Quem sabe se ele voltará amanhã….”
E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.

* * *

Para o adulto que for ler esta história para uma criança:
Esta é uma história sobre a separação: quando duas pessoas que se amam têm de dizer adeus…
Depois do adeus, fica aquele vazio imenso: a saudade.
Tudo se enche com a presença de uma ausência.
Ah! Como seria bom se não houvesse despedidas…
Alguns chegam a pensar em trancar em gaiolas aqueles a quem amam. Para que sejam deles, para sempre… Para que não haja mais partidas…
Poucos sabem, entretanto, que é a saudade que torna encantadas as pessoas. A saudade faz crescer o desejo. E quando o desejo cresce, preparam-se os abraços.
Esta história, eu não a inventei.
Fiquei triste, vendo a tristeza de uma criança que chorava uma despedida… E a história simplesmente apareceu dentro de mim, quase pronta.
Para quê uma história? Quem não compreende pensa que é para divertir. Mas não é isso.
É que elas têm o poder de transfigurar o quotidiano.
Elas chamam as angústias pelos seus nomes e dizem o medo em canções. Com isto, angústias e medos ficam mais mansos.
Claro que são para crianças.
Especialmente aquelas que moram dentro de nós, e têm medo da solidão…

Bibliografia e Comentário
As mais belas histórias de Rubem Alves

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Você sabe PERDOAR ?


Ao se falar em perdão, é comum nos remetermos quase de imediato a uma leitura religiosa, ou seja, o perdão sendo visto como unilateral, entendido como algo que doamos a alguém, um ato de desprendimento, generosidade e bondade com o outro, mas é mais do que isso...

Quando estamos magoados e feridos, os sentimentos mais presentes são a tristeza, a decepção e a raiva. Neste momento é difícil se pensar em perdão. Primeiramente há o momento de viver a própria dor, senti-la para depois resolve-la. Muitos tentam pular essa fase inevitável e como conseqüência apenas prorrogam seu próprio sofrimento.

A raiva é o mais primário dos sentimentos, pois é gerada pela frustração e pelo sentimento de impotência. Dela nasce o desejo de vingança como uma tentativa de diminuir a própria dor, mas a vingança é um sentimento traiçoeiro, pois se alia a seu adversário no momento em que sua vida passa a ser apenas um instrumento com o objetivo de atingir ou prejudicar aquele que lhe feriu. Facilmente a vingança torna-se seu senhor e você seu escravo. Trata-se de um ciclo vicioso e aparentemente sem fim.

Também não podemos esquecer que algumas pessoas são muito mais susceptíveis a mágoas e melindres que outras, possuem limiares diferentes, variando de acordo com sua personalidade, capacidade de percepção, capacidade de tolerar frustrações, entendimento de mundo, sensibilidade, ou seja, de acordo com sua saúde emocional. Uma mesma vivência é sentida , percebida e compreendida de forma diferente até mesmo entre irmãos, que supostamente foram criados sob as mesmas variáveis, o que dirá entre pessoas que possuem crivos diferentes.

Desde o nascimento, somos seres carentes de relacionamentos, o ser humano precisa se relacionar para se desenvolver emocionalmente. A família é o berço do desenvolvimento emocional, costumo dizer que é nosso útero social, pois é através dela que recebemos essa carga de crenças, entendimentos e leituras sobre o mundo. Nossas relações passam pelo crivo dessas crenças, pela forma de entender o mundo que nos cerca e de nos perceber enquanto pessoas, nossos direitos e responsabilidades.

Estamos sempre construindo e reconstruindo nossas idéias, num ciclo dinâmico, que pode ser saudável ou não. É claro que essas crenças trazem todos os preconceitos e dificuldades relacionais de nossos ancestrais, afinal ninguém pode dar aquilo que não tem.

Cabe a nós em nossa jornada acessar nossas fontes de saúde que são nossa criatividade e espontaneidade. Elas nos ajudarão a tentar o novo, a perdoar,a reconstruir, a olhar de outra forma a mesma questão, e a nos fortalecer, nos impulsionando para novos movimentos e experiências.

Relacionar-se é fácil quando encontramos pessoas que pensam e percebem o mundo como nós, ou seja se utilizam do mesmo fóco para avaliar os acontecimentos, mas a grande questão é quando nos deparamos com pessoas que possuem outros parâmetros e valores, neste caso, para que a relação seja possível, é necessária uma carga a mais de respeito ao outro a suas idéias e a seu ponto de vista e obviamente de respeito pessoal.

Num processo de autoconhecimento nossa leitura é feita a partir de um entendimento relacional, como sabemos, toda ação gera uma reação. Quando tomamos consciência de nossa parcela de responsabilidade naquilo que nos acomete, temos a possibilidade de nos tornarmos senhores de nossas vidas, mais autênticos e não mais escravos, cegos e perdidos diante dos acontecimentos. Não nos tornamos vítimas nem tão pouco vilões, apenas humanos conscientes dos reflexos de nossas atitudes. A raiva não é negada ou sublimada ela é canalizada para movimentos positivos que podem trazer crescimento e desenvolvimento pessoal, ela é transformada em energia positiva provedora de mudança e transformação.

ENTÃO O QUE É PERDOAR? Perdoar é realmente um ato de amor mas, não apenas amor ao outro, mas também ,amor a si próprio. É assumir a responsabilidade sobre os próprios atos e desejos, é perceber-se na dimensão do humano e como tal entender a sua significância. Perdoar é amadurecer emocionalmente é aprender que somos falíveis e imperfeitos, tal qual o outro com quem nos relacionamos e essa é a genialidade do ser humano. Não existem os certos e os errados, existe o olhar a partir de um ponto de vista e cada um tem o seu, portanto não existe A verdade, existem verdades á partir de realidades diferentes. O parâmetro é o respeito, o sentimento de cidadania, a ética e o amor.

Você é uma pessoa tímida?


Chamamos de timidez ao desconforto diante de situações sociais, que pode, algumas vezes, atrapalhar o indivíduo na conquista de seus objetivos, sejam eles pessoais ou profissionais.

Na prática, todos somos afetados pela timidez em alguns momentos de nossas vidas, uma vez que ela funciona como um "regulador social" para evitar os excessos que transformariam nossa sociedade em um verdadeiro caos.

A timidez pode ser situacional ou crônica:

Timidez situacional: a inibição se manifesta em ocasiões específicas, e portanto o prejuízo é localizado. Por exemplo, a pessoa não experimenta dificuldades no amor, mas morre de medo de falar em público. A timidez situacional é a mais fácil de ser vencida, pois neste caso o indivíduo já possui mais habilidades sociais do que o tímido crônico, e grande parte do tratamento consistirá no aprimoramento das habilidades já existentes.

Timidez crônica: a pessoa experimenta dificuldades em praticamente todas as áreas do convívio social. Ela não consegue falar com estranhos, fazer amigos, paquerar, falar em público, enfim, o prejuízo é generalizado. Nesse caso é necessário um desenvolvimento completo dos recursos necessários para a interação com o mundo.

Quando a timidez se torna patológica passa a ser denominada fobia social. A timidez patológica ou fobia social tem todas as características da timidez crônica, porém é ainda mais intensa, fazendo com que a pessoa passe a evitar a maior parte das situações que exijam exposição social (comer em restaurantes, usar banheiros públicos, freqüentar piscinas) e quando submetida a tais situações apresente sintomas como tremores intensos, sudorese, taquicardia náuseas e desconforto abdominal.

Com o que não deve ser confundida

A timidez não deve ser confundida com:

Fobia social, pois ela acarreta maiores prejuízos à vida do indivíduo e seus sintomas são mais intensos e incapacitantes;

Antipatia, visto que quando a esfera da timidez é ultrapassada, e a situação de ansiedade é superada o indivíduo pode se mostrar muito afável;

Personalidade anti-social, pois a timidez incomoda o indivíduo justamente por ela afetar seu relacionamento com outras pessoas, o que é indiferente para uma pessoa anti-social.

Sintomas

Inibição e passividade;

Auto-Imagem negativa (pensamentos negativos sobre si mesmo e as situações);

Baixa auto-estima e autoconfiança

Medo de avaliação negativa e de parecer "bobo" diante dos outros;

Insegurança (medo de fracassar, de ser rejeitado e parecer ridículo);

Preocupação excessiva com as opiniões e julgamentos alheios;

Pouco contato visual, baixo volume de voz, rubor e gagueira;

Reduzida expressão corporal;

Dificuldade de se apresentar;

Necessidade constante de inventar desculpas e de recusar convites;

Sentimentos de vergonha, tristeza e solidão;

Conseqüências mais comuns

Dificuldade em fazer amigos, círculo social extremamente reduzido;

Dificuldade em arrumar parceiros amorosos, início tardio da vida amorosa;

Dificuldade em apresentar trabalhos no colégio, faculdade ou serviço;

Dificuldade em participar de reuniões e apresentar seu ponto de vista.

domingo, 10 de abril de 2011

Será que Deus leu Darwin?


Segue algumas colocações demonstrando que o texto de Gênesis, narrando a criação, não é incompatível com a Teoria da Evolução...

O Livro de Gênesis é atribuído a Moisés. Junto com os cinco primeiros livros da Bíblia forma a Tora; base para a religião judaica. Gênesis, datam os historiadores, foi escrito por volta do ano 1800 AC; porém, o relato, já era tradição oral do povo judeu bem antes disso. Para tentar entender Gênesis, é necessário entender um pouco do que ocorria em torno do ano 2000; 2500 AC (Em torno de 4500 anos atrás). Há 4500 anos, a humanidade já havia adotado o sedentarismo. Fixado a terra, construiu grandes cidades. A sobrevivência e a riqueza tinham como base o uso da terra e da água; necessários à agricultura; à mineração e outras atividades humanas. Controlar esses recursos era vital; mantendo os povos um grande quantitativo de pessoas alocado em exércitos.

Além da terra e da água; o Homem era dependente dos fenômenos naturais e das estações do ano, que ditavam a época de
plantar; a colheita ou destruíam as safras. Por isso as castas sacerdotais, intermediários entre o homem e os deuses; que controlavam ou eram a própria natureza, assumia um papel quase tão importante quanto os chefes de Estado e chefes militares. O modo de produção era escravista e os povos, por mesclarem a idéia de Deus com as forças da natureza, eram politeístas. As explicações para o aparecimento do mundo eram míticas (Dadas pela existência de seres fabulosos e de grande poder; que em batalhas ou por manipulação; ordenavam o caos e faziam nascer a ordem; ordenando o Universos e os seus desígnios. Foi nessa realidade que vivia o Homem quando apareceu o texto de Gênesis. Dessa feita; Genesis foi destinada a uma humanidade com compreensão limitada do Universo que a cercava. Os rudimentos da ciência estavam anos luz de como a conhecemos.

A filosofia só iria aparecer 1500 anos depois. Gênesis, por isso, não deve ser lido textualmente; mas sim como uma alegoria (Conjunto de símbolos utilizados para se transmitir um determinado conhecimento de maneira simplificada); e como tal, analisado rizomáticamente. Quando lemos Gênesis; ao contrário do que os adeptos fervorosos do evolucionismo e dos seus críticos mais ferazes; não temos divergência entre as Verdades da Fé e as Verdades Científicas; ao contrário. Em Gênesis; para um texto alegórico de mais de 4000 anos de idade, temos espantosas Verdades que a ciência só veio a descobrir milhares de anos depois. Na narrativa de Gênesis; em seu primeiro capítulo, vale destacar que: 1) Aparece a noção de monoteísmo em uma época em que o mundo era politeísta. 2) O texto desloca a idéia de ORDENAÇÃO para a idéia de CRIAÇÃO; ou seja: Nos relatos míticos o mundo era pré-existente e os seres míticos apenas o ordenavam. Em Gênesis; Deus cria. 3) A criação não aparece de uma única vez; em um só dia; mas é fruto de vários dias; ou seja: Há uma idéia temporal. Uma idéia de ordem cronológica na criação das coisas. 4) A ordem da criação narrada em Gênesis é praticamente a mesma que os cientistas dizem ter ocorrido no aparecimento do Universo: Energia; matéria; água, seres menos complexos; seres mais complexos; homem (Gênesis é evolucionista; ao seu modo. A criação Divina utiliza-se da evolução / gradação para criar as condições de vida para o Homem; possibilitando o seu aparecimento e sustento).
Assim, como exposto; termino pedindo que os leitores leiam todo o Capítulo 1 de Gênesis e me enviem os seus comentários me dizendo se realmente, para um texto de quatro mil anos de idade, ele não é extremamente exato... Se eu fosse um alienígena, viesse à terra há 4500 anos atrás; visse a humanidade e lesse o Gênesis; ficaria abismado como a humanidade no seu estado de barbárie tinha conseguido chegar tão perto da Verdade. Ainda, se fosse um alienígena, e dissessem para mim que foi Deus quem revelou tudo isso eu diria que esse Deus é extremamente sábio e talvez tivesse lido Darwin e passasse a acreditar nele...

Por Alexandre Yamazaki
Filósofo e Psicanalista

Opção Desequilíbrio Hormonal ou Orientação Sexual?


Apesar deste artigo ser um pouco extenso ele designa o que é orientação sexual ou opção sexual. Traz também as diversas formas de orientação sexual, sempre esclarecendo todas elas.


Quando uma criança nasce, sua identidade sexual será reconhecida pelos caracteres sexuais primários. Se essa criança irá confirmar ou não sua identidade sexual, dependerá da complementação de caracteres secundários que são os testículos nos meninos e ovário nas meninas e também de um processo mais complexo – o sexo psicológico – que se desenvolverá com o passar dos anos. Se no sentido fisiológico, as pessoas podem ter sua identidade sexual definida a partir da presença de órgãos sexuais característicos de cada gênero, o mesmo não ocorre com o sexo psicológico. Pensando nisso, a sexualidade se apresenta numa escala variante que vai desde um comportamento extremamente feminino numa mulher, passando por mulheres pouco femininas, mulheres masculinizadas até homossexuais femininas; da mesma forma podemos encontrar homens pouco masculinos, homens feminilizados e homossexuais masculinos.

O termo orientação sexual é considerado mais apropriado do que opção sexual ou preferência sexual. Mas por quê ? Estudos recentes realizados dentro da sexualidade mostram que ainda na infância, a tendência sexual começa a se desenhar – motivo este o termo opção sexual é inadequado, uma vez que a tendência sexual começa a se manifestar mais ou menos aos sete anos de idade. Neste período a criança ainda não possui uma capacidade avaliativa e que possamos chamar de “escolha”. O que geralmente ocorre é que a criança nesta idade tenta reunir-se às crianças do sexo que irão se identificar psicologicamente e se este não estiver de acordo com a fisiologia, ela tende a ser discriminada pelas outras crianças.

Um estudo sueco traz novos elementos para a discussão a respeito da base biológica da orientação sexual. A neurologista Ivanka Savic em Estocolmo observou que em resposta a um hormônio masculino, o cérebro de mulheres heterossexuais e de homens homossexuais responde de forma similar e da mesma forma há semelhanças na ativação de regiões cerebrais de homens heteros e mulheres homossexuais em resposta a um hormônio feminino.

Mas afinal o que é orientação sexual ? Ela indica o gênero (masculino e feminino) que uma pessoa se sente preferencialmente atraída física e/ou emocionalmente. Essa orientação pode ser: assexual, bissexual, heterossexual, homossexual ou pansexual. A orientação sexual não-heterossual foi removida da lista de doenças mentais nos Estados Unidos em 1973 e do CID (Classificação Internacional de Doenças) em 1993.

A assexualidade é a orientação sexual caracterizada pela indiferença à prática sexual, isto é, a pessoa assexual não sente atração nem pelo sexo oposto e nem pelo mesmo sexo que o seu. A assexualidade pode ser classificada como uma disfunção e não uma orientação sexual. Existe um desacordo a respeito se a assexualidade é uma orientação sexual legítima. Algumas pessoas argumentam que seria um distúrbio de hipoatividade sexual ou distúrbio da aversão sexual. Outras causas sugeridas incluem abuso sexual passado, repressão sexual, problemas hormonais e desenvolvimento tardio de atração. Muitas pessoas ditas assexuais negam tais diagnósticos e argumentam que como a assexualidade não traz angústia, não deveria ser classificada como um distúrbio.

A bissexualidade se trata da atração física e emocional por pessoas tanto do mesmo sexo como do sexo oposto com níveis variantes de interesse por cada um, e à identidade correspondente a esta orientação sexual. Portanto, bissexual sente atração por ambos os sexos, servindo, portanto de um quase meio-termo entre o hetero e o homossexual. Uma equipe de psicólogos de Toronto e Chicago realizaram estudos que serve de apoio para aqueles que se declaram céticos sobre o fato da bissexualidade ser um tipo de orientação distinta e estável. Eles mediram diretamente os padrões de resposta a estímulos a imagens de homens e mulheres. Os homens que se diziam bissexuais mostraram-se muito mais sexualmente excitados diante de outros homens. As pessoas que afirmam ser bissexuais são geralmente homossexuais, mas são ambivalentes sobre sua homossexualidade.


Heterossexualidade refere-se à atração sexual e/ou romântica entre pessoas de sexos opostos, e é considerada a mais comum orientação sexual nos seres humanos. A heterossexualidade tem sido identificada como “a normal” ou “natural”, decorrendo diretamente da função biológica relacionada com o instinto reprodutor sendo tudo o resto “anormal” ou “anti-natura”.

Homossexualidade é o atributo, a característica ou a qualidade daquele ser que é homossexual e define-se por atração física, emocional e estética entre seres do mesmo sexo com eventual inversão de papéis de gênero (homens e mulheres). Como surgiu o termo homossexual ? Foi criado em 1869 pelo escritor e jornalista Karl-Maria Kertbeny, derivando do grego homos que significa “semelhante”. Em 1870, um texto de Westphal chamado “As sensações sexuais contrárias” definiu a homossexualidade em termos psiquiátricos como um desvio sexual, uma inversão do masculino e do feminino.

A partir de então, no ramo da sexologia, a homossexualidade foi descrita como uma das formas emblemáticas da degeneração. Experiências em laboratórios com ratos fêmeas e com seres humanos que receberam testosterona (hormônio sexual masculino) ainda em fase uterina, resultou que desde a primeira fase da vida, mostravam comportamento masculinos como gostos, brincadeiras mais agressivas além de sentirem-se mais atraídas por fêmeas.

Geneticistas defendem a tese de que a homossexualidade tem determinação genética. Glenn Wilson e Quazi Rahman, investigadores na área da psicologia, concluem que há diferenças biológicas entre pessoas homossexuais e heterossexuais, e que estas não podem ser ignoradas. Alegam também que alguns fetos do sexo masculino com pré disposição genética para a homossexualidade são incapazes de absorver corretamente a testosterona no seu processo de desenvolvimento, de modo que os circuitos neurocerebrais responsáveis pela atração pelo sexo oposto, ou nunca se desenvolveram ou o fazem de forma deficiente. Quanto à homossexualidade feminina, esses investigadores avançam com a hipótese de haver uma proteína no útero responsável pela atração dos fetos femininos contra a exposição excessiva a hormônios masculinos que não atuam suficientemente cedo no processo de desenvolvimento.

Psicólogos e psicanalistas estão contrários a argumentações apenas biogenéticas sobre as causas da homossexualidade e consideram a percepção desta orientação sexual como um traço “apenas” geneticamente determinado incorreta, buscando antes explicações associadas ao meio e à educação dos indivíduos homossexuais. Psicólogos norte americanos desenvolveram pesquisas sobre a importância da formação intra familiar no homossexual.

Pansexualidade é a orientação sexual, distinta da bissexualidade e caracterizada por atração estética, amor romântico e o desejo sexual por qualquer um, incluindo pessoas que não se encaixam na binária de gênero macho/fêmea implicado pela atração bissexual. Algumas vezes é descrito como a capacidade de amar uma pessoa de forma romântica, independente do gênero. Alguns pansexuais chegam a afirmar que o gênero e sexo não têm importância para eles. Algumas pessoas trans e intersexuais se descrevem como pansexuais, tendo uma percepção íntima que existem muitos níveis entre o masculino e o feminino. Contudo isso não deve ser visto como generalização, já que as pessoas trans podem se identificar como heteros, bissexuais ou homos baseado em sua identidade de gênero.

Existem três termos: travesti transexual e transgênero que as pesquisas e estudos realizados dentro da sexualidade ainda não têm uma classificação definitiva.
Travesti era originalmente alguém que se vestia com roupas do sexo oposto para se apresentarem em eventos de fundo artísticos. Mas, essa prática passou a designar o comportamento das drag queens e transformistas. Esse termo atualmente se refere às pessoas que apresentam sua identidade de gênero oposta ao sexo designado no nascimento, mas que não almeja se submeter à cirurgia de resignação sexual que nada mais é do que a mudança de sexo. As pessoas que se definem travestis podem se identificar como homossexuais, heterossexuais, bissexuais ou assexuais.

Transexual é uma pessoa que possui uma identidade de gênero oposta ao sexo designado, mas o que difere do travesti é que o transexual tanto homem quanto mulher, fazem ou pretendem fazer uma transição do seu sexo designado no nascimento com o sexo oposto. A explicação estereotipada é de uma mulher presa em um corpo masculino ou vice versa. Transexualidade é um termo entre os comportamentos ou estados que abrigam o termo transgênero. Entretanto muitas pessoas da comunidade transexual não se identificam como transgênero que se refere a pessoas cuja expressão de gênero não corresponde ao papel social atribuído ao gênero designado para elas no nascimento. Mais recentemente o termo tem sido utilizado para definir pessoas que estão constantemente em trânsito entre um gênero e outro. O prefixo trans significa “além de”, “através de”.Não existe cientificamente nada que prove quais são as causas da transexualidade. Todavia, muitas teorias sugerem que as causas têm suas raízes na biologia e outros acreditam que as origens são predominantemente psicológicas.



Dentre as causas psicológicas temos mães superprotetoras e pais ausentes, pais que almejavam uma criança do sexo oposto e homossexualidade reprimida. Em termos de individualidade ou essência, qualquer ser humano possui o gênero masculino e o gênero feminino dentro de si. No campo da sexualidade, temos muito ainda que pesquisar e estudar e definir realmente o que está por trás desses desejos sexuais e principalmente da “variedade” de orientações sexuais. Mas até lá o importante é que, qualquer que seja a orientação sexual dessas pessoas, como qualquer outro ser humano, elas merecem compreensão e são muito mais que um rótulo e que podem e devem ter uma vida comum como todos nós.

Bibliografia sugerida:

CARDOSO, Fernando Luiz, “O que é orientação sexual”, Editora Brasiliense
SCHIAVO, Marcio Ruiz, “Manual de Orientação Sexual”, Editora O Nome da Rosa

Por Alexandre Yamazaki
Filósofo e Psicanalista