segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Medo e Psicanalise
O medo é uma emoção intrínseca ao humano. Trata-se de uma emoção que acompanhou o curso evolutivo do homem, provavelmente, desde os primórdios da vida. O feto humano já reage com contrações quando estimulado no útero. Isso quer dizer que já no desenvolvimento intra-uterino o ser humano apresenta sinais de conduta individualizada que é o comportamento inibitório. Conhecemos esse comportamento com o nome de medo.
O medo é psicofísico. Toda vez que sentimos medo, imediatamente, nosso organismo apresenta reações características desse sentimento. Dependendo da intensidade do medo, podemos ter uma paralisação momentânea das funções cardíaca e respiratória. A seguir o coração dispara e a respiração acelera. Sobrevêm a palidez que é proveniente da retirada de sangue dos vasos periféricos. O suor pode inundar a pele. Se pudéssemos olhar o corpo internamente, dentre outras reações, poderíamos observar que as alças intestinais se dilatam e cessam as atividades motrizes do estômago. A secreção gástrica fica paralisada e relaxam-se todas as fibras musculares lisas em toda a extensão do tubo digestivo. Há uma abundante liberação de adrenalina na corrente sangüínea. Os vasos sanguíneos se contraem. Continuar...
O medo é, portanto, a mais visceral e talvez a mais antiga emoção do homem. O medo foi necessário para que a espécie humana se preservasse e, sem ele, provavelmente, seríamos uma espécie extinta há muito. Sempre que o ser humano se depara com uma situação que desperta medo, tende a fugir. Mas o homem não foge só porque tem medo, mas também, para livrar-se do sentimento de medo. Essa fuga, ao contrário do que possa parecer, não é uma atitude passiva, mas sim ativa onde o homem apropria-se de seus recursos para superar uma situação de perigo e dela libertar-se, preservando a vida. Entretanto esse comportamento pode ser interpretado de duas maneiras: Por um lado evita que o homem sofra alguns males colocando-o a salvo, por outro, impede que enfrente situações de conflitos que poderiam leva-lo a êxitos que ampliariam seu repertório experimental. Na timidez, por exemplo, as pessoas se protegem de um mal imaginário e ficam impedidas de viver plenamente as experiências que um contato afetivo poderia trazer.
Todos nós, ainda que não tenhamos nos detido para observar, sabemos que o medo é um dos mais eficientes professores que temos. Faz nos aprender com uma velocidade desconcertante. Vejamos um exemplo: Suponhamos que uma criança jovem está andando no quintal de sua casa e é mordida pelo seu cão. Durante muitos meses aquela situação traumática ficará na memória de forma a determinar o medo e a reação de fuga diante de qualquer cão. Ou seja, a criança ficará durante muito tempo aguilhoada pelo medo.
Só com o passar do tempo e na medida em que puder experimentar situações onde se certifique de que nem todos os animais reagem de forma agressiva e que a criança vai, paulatinamente, ganhando confiança para então diminuir o medo. Entretanto, há situações em que é muito difícil erradicar completamente o medo. Muitos medos se imprimem na mente de forma cumulativa e não puntiforme como o exemplo que utilizamos acima, tornando-se assim mais difíceis de serem identificados e tratados.
O medo exerce grande influência sobre tudo no psiquismo humano. Esse sentimento tem atravessado o tempo com o homem e ajudou-o a tecer sua história não só no sentido do progresso como também no sentido da maldade e da destruição. No sentido do progresso pode-se dizer que o medo fez com que o homem criasse cada vez mais condições para preservar-se. Criou recursos para proteger-se das feras, da fome e da instabilidade do tempo e de sua própria espécie. Saiu das cavernas para as choupanas, destas para casas de alvenaria e posteriormente criou castelos com altos muros e grossas paredes. Descobriu as ervas que curavam e muito mais à frente criaram-se os remédios que prolongam a vida. Criou armas, cada vez mais sofisticadas para a caça e defesa.
Indicações Bibliográficas
“A Negação da Morte”, Ernest Becker, Nova Fronteira, 1976.
“Ano 1000, ano 2000: na pista de nossos medos”, Georges Duby, Editora Unesp, 1998.
O autor faz uma revisão histórico e social da Idade Média, em relação aos ao Medos contemporâneos. Feito em cinco capítulos onde fala da Miséria, Medo do Outro, das Epidemias, da Violência e do Além.
“O Medo à Liberdade”, Erich Fromm, Zahar Editores, 1978.
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