segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Vocabularios Freudianos, Neurose



O que é Neurose?

A palavra “neurótico”, da maneira como costuma ser usada hoje, tem sentido impróprio e pode ser ofensivo ou pejorativo. Pessoas que não entendem nada dessa parte da medicina podem usar a palavra “neurose” como sinônimo de “loucura”. Mas isso não é verdade, de forma alguma.

Trata-se de uma reação exagerada do sistema nervoso em relação a uma experiência vivida (Reação Vivencial). Neurose é uma maneira da pessoa SER e de reagir à vida. A pessoa É neurótica e não ESTÁ neurótica.
Essa maneira de ser neurótica significa que a pessoa reage à vida através de reações vivenciais não normais; seja no sentido dessas reações serem desproporcionais, seja pelo fato de serem muito duradouras, seja pelo fato delas existirem mesmo que não exista uma causa vivencial aparente.

Essa maneira exagerada de reagir leva a pessoa neurótica a adotar uma serie de comportamentos (evita lugares, faz atitudes para alívio da ansiedade… etc).

O neurótico, tem plena consciência do seu problema e, muitas vezes, sente-se impotente para modificá-lo.
Exemplos:
1 – Diante de um compromisso social a pessoa neurótica reage com muita ansiedade, mais que a maioria das pessoas submetidas à mesma situação (desproporcional). Diante desse mesmo compromisso social a pessoa começa a ficar muito ansiosa uma senana antes (muito duradoura) ou, finalmente, a pessoa fica ansiosa só de imaginar que terá um compromisso social (sem causa aparente).
2 – Num determinado ambiente (ônibus, elevador, avião, em meio a multidão, etc) a pessoa neurótica começa a passar mal, achando que vai acontecer alguma coisa (desproporcional). Ou começa a passar mal só de saber que terá de enfrentar a tal situação (sem causa aparente).

O que não é Neurose?

Como vimos, a Neurose é uma doença, uma doença emocional, afetiva e da personalidade. Logo, Neurose não é:

- Falta de Homem (ou de Mulher)

- Falta de pensamento positivo

- Cabeça ou mente fraca

- Falta de vontade

- Falta de ter o que fazer

- Ruindade ou maldade

- Sem-vergonhice

- Influência espiritual

- Mal-olhado ou encosto

- Coisa “de sua cabeça” (isso é caspa)

- Falta de ter passado por dificuldades de verdade (isso é azar)

- Por nunca ter passado dificuldades

- Falta de uma boa surra

- A “gente é que permite”

- Conseqüência de ter tido de tudo na vida

- Conseqüência de não ter tido nada na vida

- Porque o pai brigava com a mãe

- Porque o pai separou da mãe

- Porque o pai era enérgico

- Porque o pai era omisso

- Porque não teve pai

- Porque a mãe era protetora

- Porque a mãe era omissa

- Porque não tinha mãe

- Porque soube que a mãe não era essa

- Porque “forçou demais a cabeça”

- Porque nunca “teve que forçar a cabeça”

- Porque a menstruação subiu para a cabeça

- Finalmente, porque misturou manga com leite…

A Neurose é uma Doença Mental?

Não, a Neurose não é sinônimo de loucura, assim como também, a pessoa neurótica não apresenta nenhum comprometimento de sua inteligência, nem de contato com a realidade. Seus sentimentos também são normais. Eles amam, sentem alegria, tristeza, raiva, etc., como qualquer pessoa.
A diferença entre uma pessoa neurótica e uma normal é em relação à quantidade de emoções e sentimentos e não quanto à qualidade deles. Os neuróticos ficam mais ansiosos, mais angustiados, mais deprimidos, mais sugestionáveis, mais teatrais, mais impressionados, mais preocupados, com mais medo, enfim, eles têm as mesmas emoções que todos nós temos, porém, exageradamente.
A Neurose, portanto, não é uma doença mental é, sobretudo, uma doença da personalidade.
De modo geral, e didaticamente, as neuroses costumam ser classificadas através de seu sintoma mais proeminente. Isso não significa que todas elas possam ter uma série de sintomas comuns (todas têm ansiedade, por exemplo).
Um dos tipos mais comuns, hoje em dia, é aquele cujo sintoma proeminente é a fobia (medo patológico), juntamente com ansiedade.
O Transtorno Fóbico-Ansioso é uma neurose que se caracteriza, exatamente, pela prevalência da Fobia entre outros sintomas de ansiedade, ou seja, um medo anormal, desproporcional e persistente diante de um objeto ou situação específica.
Dentro dos quadros fóbicos-ansiosos destacam-se três tipos:
1 – Agorafobia (medo fóbico de lugares específicos);
2 – Fobia Social (medo de ser avaliado por outras pessoas) e;
3 – Fobia Específica (medo fóbido de determinados objetos).

O Transtorno Ansioso é outro tipo de Neurose.
Os padrões individuais de Ansiedade variam amplamente. Algumas pessoas com ansiedade neurótica podem ter sintomas cardiovasculares, tais como palpitações, sudorese ou opressão no peito, outros manifestam sintomas gastrointestinais como náuseas, vômito, diarréia ou vazio no estômago, outros ainda apresentam mal-estar respiratório ou predomínio de tensão muscular exagerada, do tipo espasmo, torcicolo e lombalgia. Enfim, os sintomas físicos da ansiedade variam de pessoa para pessoa. Psicologicamente a Ansiedade pode monopolizar as atividades psíquicas e comprometer, desde a atenção e memória, até a interpretação fiel da realidade.
Os Transtornos Histriônicos (Histéricos) são neuroses onde o sintoma principal é a teatralidade, sugestionabilidade, necessidade de atenção constante e manipulação emocional das pessoas ao seu redor. O neurótico histérico pode desmaiar, ficar paralítico, sem fala, trêmulo, e desempenhar todo tipo de papel de doente. Há grande variedade nesse tipo de neurose.
Os Transtornos do Espectro Obsessivos-Compulsivos reúnem neuroses cujo sintoma principal é a incapacidade de controlar manias e rituais, assim como determinados pensamentos desagradáveis e absurdos.
Incluimos a Distimia nessa classificação como representante da neurose cujo sintoma mais proeminente é a tendência a reagir depressivamente à vida, ou seja, é a pessoa com tendência à longos períodos de depressão.

A Neurose tem cura?

Antigamente se pensava que a neurose era sempre incurável e que se convertia, com o tempo, numa doença crônica e invalidante. Hoje em dia, felizmente, as pessoas que sofrem deste transtorno podem recuperar-se por completo e lavar uma vida normal como qualquer outra pessoa.
A questão da cura das neuroses, que é uma doença da personalidade, deve ser comparada à diabetes, pressão alta, miopia, reumatismo, alergia, asma e uma grande série de outras doenças. As pessoas portadoras dessas doenças, assim como os neuróticos, teriam uma péssima qualidade (e quantidade) de vida se não fossem os recursos da medicina.
A rigor, para as neuroses, recomenda-se um acompanhamento psicológico adequado, associado ao tratamento médico (com medicamentos) quando necessário, juntamente com a cooperação apropriada do próprio paciente e da sua família. Com essa conduta, felizmente, a grande maioria das neuroses podem ser perfeitamente controlada, proporcionando ao paciente uma melhor qualidade de vida e inegável bem estar.
Em casos mais graves a medicação é inevitável, normalmente quando há componentes depressivos e ansiosos graves.

A família pode causar a neurose?

Sim e não! Essa resposta depende da família e do neurótico. Para entender melhor essa questão, vamos comparar a neurose com a alergia. Vamos considerar uma pessoa com rinite alérgica e que, ao entrar em contacto com um ambiente embolorado, manifesta sua rinite. Esse exemplo é muito didático.
Perguntamos: o fungo do bolor (a família), é a causa da rinite alérgica (neurose)???
Para haver a rinite alérgica é preciso 2 coisas; que a pessoa seja alérgica previamente, e do fungo. Entretanto, para essa, para essa crise de rinite, precisamente, o fungo foi indispensável. Mas isso não quer dizer que a pessoa não possa, um dia qualquer, ter a rinite sem o fungo, assim como, não ter a rinite apesar do fungo. Dependerá de como está sua imunidade (analogamente, seu humor ou afetividade) naquele dia.
O mais correto, agora, é dizer que o fungo (família) pode desencadear, agravar ou proporcionar condições para uma crise alérgica aguda (uma reação neurótica), mas não é a causa exclusiva.
Da mesma forma, podemos dizer que para desenvolver uma neurose é preciso uma certa vulnerabilidade emocional e, para que esta se manifeste em sua plenitude, é preciso uma vivência desencadeadora.

A Neurose é herdada?

Em primeiro lugar convém fazer uma distinção entre o que é genético, o que é constitucional e o que é hereditário:
1) Se uma doença é Genética, isso quer dizer que antes de nascer uma pessoa pode ter um gene ou uma programação que a conduza em direção à doença, mas em forma de probabilidade e não de certeza.
Cada um de nós carrega genes de diferentes doenças mas não as desenvolvemos obrigatoriamente. Um exemplo claro disso é o câncer de pulmão, identificado em genes de pessoas sadias não fumantes. Uma pessoa que tenha este gene teria uma predisposição genética a desenvolver a doença, mas isso não quer dizer que esta pessoa vá desenvolvê-la obrigatoriamente. De fato, se não fumar, levar uma vida não estressante, enfim, se não cumprir os requisitos necessários ao desenvolvimento da doença não terá câncer de pulmão.

2) É Constitucional a doença que faz parte da pessoa, sem necessariamente ter sido genética ou hereditária.

Constitucional significa ter nascido assim ou ter adquirido para sempre. Se a pessoa nasceu surda, essa surdez é constitucional, sem necessidade de ser genética.

As marcas de vacina que alguns têm nos braços, podemos dizer que são constitucionais (fazem parte da pessoa) mas não foram herdadas. Antes disso, foram adquiridas em tenra idade e não desapareceram mais.

3) Uma doença Hereditária é uma doença genética que se transmitirá, com certeza, de uma geração a outra e, além disso, terá uma porcentagem fixa e calculada de novos casos da doença na geração seguinte.
Um exemplo de uma doença hereditária é a Coréia de Huntington. Esta doença crônica supõe um degeneração corporal e mental que se passa de uma geração a outra, desenvolvendo-se em 50% dos filhos. Quer dizer que um paciente de Huntingtom que decide ter um filho sabe, de antemão, que a cada dois filhos que nascerem, no mínimo um desenvolverá a enfermidade.
Até o momento, podemos considerar as Neuroses de natureza Constitucional e, algumas vezes, Genética.

Qual a importância social das neuroses?

As neuroses são, indubitavelmente, o contingente mais importante de pacientes que procuram ajuda de psicólogos e psiquiatras. Seu quadro é extremamente variado, indo dos problemas psicossomáticos, sexuais, depressões, angústia, insônia, etc, etc.
As neuroses interferem e estão presentes também nos problemas de aprendizagem, no desenvolvimento da personalidade, no fracasso escolar, nos conflitos familiares e nas crises conjugais.
A psiquiatria considera as neuroses transtornos menores, em relação às psicoses. Isso se deve ao fato do neurótico conservar, de alguma maneira, critérios de avaliação da realidade semelhantes às pessoas consideradas normais.
Entretanto, ao falarmos em “transtorno menor”, não estamos nos referindo a algum critério de prognóstico. O mais comum é que a neurose tenha um curso crônico e, não tratada, pode até levar a algum grau de incapacidade social e/ou profissional.

*Fonte: Ballone GJ – Transtornos do Espectro Impulsivo-Compulsivo – in. PsiqWeb Internet, disponível em http://www.psiqweb.med.br/, revisto em 2005. Adaptação de Alexandre Yamazaki. Para mais informações visite o site.

Nenhum comentário:

Postar um comentário