domingo, 21 de novembro de 2010

Sobre a Morte e o Morrer


Um dia todos morreremos...

"Cada instante da vida é um passo para a morte"
Corneille , Pierre

Lembro que quanto eu era adolescente, um dos livros que mais me fascinou foi a "Divina Comédia". Apesar de ter sido escrito, obviamente, com uma visão cristã bem medieval - acredita-se que por volta de 1307 - a 'hierarquização' do céu, inferno e purgatório usada por Dante Alighieri parece ter um paralelo com a cosmogonia budista. Mas lembro que fiquei chocado por encontrar os grandes pensadores gregos no limbo, pelo simples fato de eles não terem escolhido Cristo como salvador. Isso mostra bem o pensamento cristão na Idade Média. O pobrezinho do Homero estava no limbo. E eu pesava: mas o cara era do século 9 ou 8 antes de Cristo, como ele poderia tê-lo escolhido?" Pode parecer uma besteira, mas fiquei muito preocupado com isso. Eu não era batizado na igreja católica, portanto um pagão. E como pagão, iria passar a eternidade ouvindo a Ilíada!

Não existe nenhuma pessoa no planeta que não tenha passado pela experiência da perda de um ente querido. É uma experiência profundamente dolorosa, mesmo quando a pessoa está adoecida há tempos e a morte é “esperada” porque já se tentou de tudo ou porque seja portadora de uma patologia fatal. Ainda assim, a morte nunca é esperada, ou melhor, é, porém, com esperanças de que seja postergada ou até, que aconteça uma espécie de milagre e evite o ciclo natural evidente no fato.

Há uma historinha do budismo que ensina a inevitabilidade da morte.

“Uma mulher cujo filho pequeno acabara de morrer corria pelas ruas desesperada, implorando a todos um remédio mágico que restituísse a vida de seu filho”.

Alguém então lhe disse para pedir a Buda.

Ela subiu a montanha até ele e implorou a vida de seu filho. Buda respondeu: Vá até a cidade e traz-me um grão de mostarda de uma casa onde não tenha morrido ninguém. Ela desceu a montanha, e correu pelas casas da cidade, sem encontrar uma única casa onde ninguém tivesse morrido.

Assim ela entendeu que morrer fazia parte da vida, por mais que Buda ressuscitasse o filho dela um dia ele morreria de novo, pois a morte e vida não são contrarias, são irmãs, então ela voltou até Buda mais reconfortada e ouviu dele a verdade:

"No mundo do homem e no mundo dos deuses, a lei é uma só: todas as coisas são passageiras”.

O Buda Shakyamuni e vários outros mestres ensinam que, na verdade, a vida faz parte da morte. É um ciclo sem fim, como um círculo.

Diante da morte, as reações são absolutamente particulares. Saber que nunca mais será possível conversar, brincar, partilhar da sua presença, brigar com ela, tocar, olhar no fundo dos olhos. Enfim, a sensação de que nos tiraram o chão é comum, porque a dor é muito grande. Alguns tentam ignorar a tristeza; outros se fecham; há também os que reprimem a dor. O que é necessário se aprender sobre a morte é, primeiro de tudo, que a dor é real. Não há como negá-la, mesmo que a negação faça parte do processo de luto! Depois, é preciso aprender saber viver esta dor corretamente. O luto é o tempo que precisamos para reorganizar a nossa vida. É um tempo que sentimos um misto de emoções como tristeza, revolta, indignação, raiva, angústia, inconformismo. É importante que se prove estes sentimentos e saboreie o que eles proporcionam, pois ajudam a superar situações que ficaram sem solução em vida.

Alguns questionamentos que vem junto com a morte geram culpa e é a própria vivência dos sentimentos de dor que a morte alavanca que purifica tudo, inclusive, imperfeições de relacionamentos. Muitos preferem, no momento da dor maior, fazer uso de remédios tranquilizantes para amenizar ou anestesiar a dor da perda. O que muitos não sabem é que as etapas do luto devem ser sentidas para que sejam melhor elaboradas e consistem em vivenciar o velório, a despedida, o sepultamento, missas de 7° dia, 1 mês, 1 ano. É natural que nos primeiros dias nos reservemos para processar o fato e isso deve ser respeitado. Mas a dor, passado alguns dias, não pode ser determinante por um período longo demais. Procurar ajuda, seja em forma de desabafos sinceros com um amigo, familiar ou profissional, contribui para que possamos assumir o quanto ficou por ser dito, feito, sentido e ameniza alguns dos sentimentos difíceis de superar. Mas, mesmo com o coração sangrando, passado um tempo, é hora de curá-lo para continuar a vida, mesmo que falte vontade. Algumas vezes, a morte de um ente querido, depois de superada nos ensina a viver melhor, com mais qualidade.

Pode soar estranho encarar a morte de forma natural, mas morrer é tão natural quanto viver. Se você puder estar ao lado de uma pessoa em seu leito de morte, não tenha medo de segurar-lhe a mão, afagar o cabelo, de falar palavras doces, pois, além de ajudar a pessoa a morrer melhor, você encontrará maior entendimento da vida para si mesmo.


Bibliografia:

FREUD, S. Luto e Melancolia. In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição
standard brasileira. Tradução por Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996. Vol. 14, p.245-263.

BROMBERG, M.H. A psicoterapia em situações de perdas e luto. Campinas: Livro Pleno, 2000.

ARIÉS, P. História da Morte no Ocidente. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977.


BOWLBY, J. Apego e Perda. V.3. São Paulo: Martins Fontes, 1985

PARKES, C. M. Luto: estudos sobre a perda na vida adulta. São Paulo: Summus, 1998.



quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Será Deus um delirio?


Religião, Espiritualidade, Religiosidade… são tudo a mesma coisa, certo ?
Algumas definições:

ESPIRITUALIDADE: Compreende elementos não mensuráveis, relacionados ao senso de realidade, significado transcendental, seu lugar e propósito no universo. Todos possuem, mesmo que seja nomeada ou definida de forma diferente.

RELIGIÃO: Expressão particular de crenças espirituais que envolvem códigos de ética, dooutrinas, dogmas, metáforas e mitos. É uma maneira de perceber o mundo.

RELIGIOSIDADE: Nível de envolvimento em uma prática religiosa.

Religião e Saúde estiveram interligados durante séculos. Na idade média, os Cavaleiros Hospitalários, monges guerreiros que comandavam os hospitais em Jerusalém na época das Cruzadas, realizavam as tarefas de um profissional que hoje conhecemos como médico. Instituições mantidas pelo clero eram comuns naquela época, fazendo a dissociação entre fé e cura praticamente impossível. No entanto, aqueles que sofriam de transtornos mentais freqüentemente eram tratados como possuídos por forças e espíritos malévolos. No século XV, com a publicação da obra Malleus Maleficarum, estabelecendo as diretrizes e procedimentos para o manejo dos que estivessem “dominados por forças do mal”, milhares de inocentes foram queimados em fogueiras ou decapitados.

Pensemos a espiritualidade como um destino. A religião seria uma das estradas para este destino. Já a religiosidade seria a intensidade e o grau de compromisso que uma pessoa tem de assumir para utilizar a mesma estrada rumo ao destino.

E o que a ciência diz sobre isso ? As evidências indicam que pessoas que praticam uma religião ou realizam práticas espirituais têm menos chances de adoecer, inclusive com relação aos quadros de transtorno mental. Entre aqueles que se encontram debilitados e/ou internados nos hospitais, os que são religiosos ou espiritualizados têm maior probabilidade de respeitar as orientações dos profissionais de saúde e, por conseqüência, recuperam-se com maior facilidade de suas enfermidades. Filhos criados em famílias com forte influência religiosa têm menores chances de se envolver em atos anti-sociais, consumo de drogas e demais delitos. Lembram daquela idéia de “corpo como lugar sagrado” ? Pois é, é bem por aí.

“Eu não tenho religião! Como posso ser espiritualizado ?”

Ok, mas até um ateu pode ter um sentido na vida. Se a sua meta for trabalhar, construir uma carreira, constituir uma família feliz, envelhecer com saúde e no final apenas descansar os ossos num cantinho onde seus descendentes possam prestar homenagens, isso já seria um sentido ao menos razoável para a vida, não ? Penso serem a essas questões que a espiritualidade vem oferecer algumas respostas e orientações.

Referências:

FREUD, Sigmund. Volume XXI: Futuro de uma ilusão. Texto original: 1927. In: FREUD, Sigmund. Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Versão 1.0.0.26. [S.I.]: Imago Editora, 1997. 1 CD-ROM.

JUNG, Carl Gustav. Psicologia e Religião. Tradução: Pe. Dom Mateus Ramalho Rocha, OSB. 2º. ed. Petrópolis: Vozes. 1978.

Ciumes: Afetividade ou desequilibrio?


"Você vai sair com essa roupa?" "A reunião foi até agora?" "Por que você olha tanto para aquele lado?" São perguntas muito ouvidas pelas pessoas que vivem relacionamentos marcados pelo ciúme.

O ciúme já protagonizou grandes tragédias, seja na ficção, seja na vida real. Existem até os crimes chamados passionais (cometidos por pessoas dominadas pela emoção). É um sentimento que merece ser tratado com atenção e cuidado. Mas o que é o ciúme? Ciúme é insegurança? É doença?

A pessoa ciumenta tem como padrão de comportamento certificar-se freqüentemente se é mesmo querida e se as outras pessoas são capazes de dar provas de seu amor, como se o amor e a atenção dependessem de algumas coisas externas à relação (como se vestir de determinada maneira ou não freqüentar alguns lugares), como se o amor exigisse um preço para ser dado e uma prova para ser recebido. É comum que os ciumentos interpretem os acontecimentos de maneira distorcida (por exemplo, o fato de o parceiro ter se arrumado para sair é interpretado como uma provocação) e sofram por isso. Esse padrão está presente desde o relacionamento com a pessoa amada até as relações com os amigos, familiares, bichos de estimação e objetos. As pessoas ciumentas costumam cobrar mais a atenção dos amigos e não gostam muito de ver seus objetos pessoais sendo usados por outras pessoas.

Por uma questão cultural, é comum as pessoas acreditarem que ciúme é prova de amor e que podem fazer pequenos sacrifícios como deixar de ir à determinados lugares ou trocar de roupa para que a pessoa amada não se chateie. O problema é que esses pequenos sacrifícios tendem a transformar-se em pequenas prisões com o passar do tempo. O ciúme vai aumentando e o prazer de estar na companhia do outro vai diminuindo.

Quem sente o ciúme também sofre e se prejudica muito, pode sentir-se desvalorizado e ficar muito ansioso quando tem que enfrentar situações em que se sente ameaçado e, muitas vezes, não consegue lidar com esse sentimento.

O ciúme abre, assim, como diz Lacan, um leque de condições em diferentes estruturas, que vão desde as situações mais comuns da vida amorosa até o campo dos delírios passionais, das condições psicóticas. Nos desenvolvimentos da psicanálise contemporânea, estuda-se cada vez mais a maneira como se estruturam os vínculos intersubjetivos nos grupos familiares e sociais. As formações e os processos psiquicos que se estabelecem no encontro do sujeito com o outro instalam alianças e pactos de natureza inconsciente, que passam a lançar luz, no estudo clínico, a fatos obscuros que se repetem de geração em geração.

É importante que o casal que passa por essa dificuldade converse bastante sobre o assunto e procure, juntos, encontrar alternativas que permitam que o amor e a confiança cresçam cada vez mais.


Alexandre Yamazaki
Filósofo e Psicanalista

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Vocabularios Freudianos, Édipo


Complexo de Édipo

Alguns heróis míticos enfrentam problemas profundos, por vezes insolúveis. Para os antigos gregos, as suas histórias trágicas demonstravam quanto à estrutura humana é falível e todas as suas desgraças eram originadas pela sua condição de homens.Talvez um dos mais famosos heróis trágicos seja Édipo, em cuja história encontrou bem definido um dos mais tormentosos conflitos a que se chamou "Complexo de Édipo".

Conta a lenda grega que ao filho do rei Tebas, Édipo, um oráculo vaticinou, que um dia ele mataria o pai, o rei de Tebas, e casaria com sua mãe. Em conseqüência o rei mandou matar o filho, mas em segredo um criado abandonou-o vivo numa encosta de pés atados. Um pastor recolheu-o e deu-lhe um nome que significa "pés inchados". Mais tarde um rei e sua esposa, estrangeiros, adaptaram a criança e educaram-na como se fosse seu filho numa cidade distante.

Mais tarde, Édipo, já adulto, e sobre dúvidas crescentes sobre a sua origem levou-o a consultar um oráculo que lhe afirmou: "Tu matarás o teu pai e casarás com tua mãe". Édipo afastou-se então dos seus pais adotivos para escapar a estas fatalidades. Na sua fuga travou uma violenta discussão na estrada com um desconhecido e matou-o, sem suspeitar que era o seu pai. Defrontou uma esfinge, monstro com cabeça de mulher e corpo de leão, que matava todas as pessoas que não conseguiam decifrar os seus enigmas, à qual lhe perguntou: "Qual o animal que anda com quatro patas de manhã, com duas ao meio dia e com três ao anoitecer?". E Édipo respondeu "O homem que caminha com as mãos e os pés no chão quando criança, mantém-se de pé sobre as duas pernas na seqüência da Vida e precisa apoiar-se numa bengala quando envelhece".

Édipo decifrou o enigma e o monstro lançou-se ao mar. Creonte, irmão da rainha Jocasta já viúva, que era a mãe de Édipo, tinha prometido a mão desta a quem libertasse Tebas do terror da Esfinge. Édipo entretanto viajou para Tebas, e deste modo desposou a rainha Jocasta sem saber que era a sua mãe. Posteriormente descobriu com horror que o estranho que matara era seu pai e que tinha desposado sua mãe. Jocasta enforcou-se. Édipo furou os seus próprios olhos, partindo para o exílio com sua filha Antígona.

Os grandes cientistas psicólogos recorrem aos antigos mitos para explicar muitos distúrbios humanos a nível psicológico e até mental. Sigmund Freud viu nesta lenda o modelo dum conflito fundamental do homem: a representação do desejo sexual inconsciente e universal de cada filho pela mãe e da conseqüente rivalidade em relação ao pai. Segundo a teoria freudiana esta lenda caracteriza uma fase do desenvolvimento psicológico infantil, mas que pode conduzir a perturbações que, caso não sejam tratadas, se traduzem mais tarde na idade adulta em perturbações neuróticas. O que Édipo na lenda não podia saber representa na realidade psicológica o que é recalcado no inconsciente. No final do desenvolvimento da sexualidade infantil ou a Fase Fálica o desejo do rapaz em relação à mãe esbarra com a proibição que lhe advém do pai e com reais ou supostas ameaças de castração. A criança deseja expulsar o pai, mas este desejo entra em contradição com o sentimento de afetividade que sente por ele, acrescentado com a dependência da sua projeção e com o referencial que a criança tem para a sua virilidade futura. Este conflito gera o seu desejo sexual em relação à mãe, e substitui-o por uma ternura, em alguns casos por vezes demasiado insistente em abraços e carinhos aparentemente desprovidos de sexualidade.

Convém dar-vos a conhecer o que é a fase Fálica, que é uma fase profundamente estudada e cientificamente esclarecida na Psicologia das Profundidades, que neste capítulo designa o resultado por assim dizer "congelado" de um conflito dos desejos pulsionais e os recalcamentos gerados em determinadas situações da evolução da infância.

Um dos mais típicos exemplos deste tremendo conflito é o Complexo de Édipo, pois nele se confrontam a forte atração física pela mãe e a rivalidade pelo pai, para além das interdições que a educação e a civilização fazem entrar no jogo. As futuras relações com a mulher ficarão para sempre marcadas por esse fato, se o jovem não for submetido a psicoterapias adequadas. O complexo de Édipo e o sentimento de castração originam o estado fálico, centrado na zona genital. Esta fase fálica é interrompida pelo tempo de latência. Entre mais ou menos o quarto ano e o quinto ano de idade e a puberdade, alonga-se o tempo de latência durante o qual as pulsões sexuais parecem mais ou menos obliteradas. O amor sexual pela mãe atenua-se, transformando-se num amor menos físico. Do amor e rivalidade simultâneos pelo pai resulta um comportamento ambivalente que pode por vezes ficar em suspenso durante toda a Vida!

O complexo de Édipo pode ser resolvido e ultrapassado logo nos primórdios da infância, dependendo do processo formativo educacional e ambiental onde a criança se desloca. Por muito amor que a mãe albergue pelo seu filho não é saudável deixá-lo adormecer com as mãozinhas da criança mexendo no seu peito, e mais ainda beijá-lo na boca. Situações continuadas mesmo depois da passagem para a segunda infância: A criança dormir assiduamente com a mãe ou com o casal. Há casos em que o rapazinho chora convulsivamente até a mãe o ir buscar para a sua cama, e é muitas vezes o pai que tem que sair da cama e ir dormir para outro lado para o menino sossegar. Quando já na segunda infância, se o pai tem trabalho por turnos, ou tem que se ausentar por noites, o menino está sempre ansioso para poder ir dormir com a mãe, o que esta permite, mais os contactos físicos de lhe mexer no peito, de a abraçar e a mãe de o beijar na boca. Até no banho quando esse tempo podia ser aproveitado para brincar numa ludoterapia que faz feliz a criança, muitas vezes a mãe chama a atenção para o órgão sexual mexendo e remexendo no mesmo, como se fosse a brincadeira mais atrativa! É lamentável, mas acontece até que depois mais crescido já é o menino que chama a atenção mexendo ele, como se estivesse na mais alegre brincadeira! E tantas e tantas coisas congêneres que eu poderia citar que são causas fundamentais para o impedimento da ultrapassagem do complexo de Édipo na devida altura que certamente encheria páginas. Essa ultrapassagem, essa resolução desse complexo de que se fala tão levemente seria talvez fundamental para que o homem adulto não cometesse tantos erros, até pela ignorância do que se passa dentro dele.

Há rapazinhos que nem passam pelo tempo de latência e eu na minha atividade profissional tenho trabalhado intensamente nestes tipos de problemas.

Muitas das situações são resultados de profunda ignorância, outras, em simultâneo com essa ignorância são profundas carências afetivas e angustiantes frustrações sentimentais que levam as mulheres a agarrarem-se ao filho para mitigar situações psíquicas, por vezes bem confusas que as atormentam. Quando o rapazinho é filho único e estas situações constrangedoras existem, este rapaz está marcado para toda a vida e há sempre fracassos, mesmo a nível sexual com outras mulheres. Seguramente é vítima de distúrbios psíco-sexuais.

Há que habituar a criança à sua cama desde bebê, não com a rigidez de não o acolher momentaneamente com todo o carinho para a mamada, e aconchegá-lo, e com muita suavidade e doçura não lhe permitir determinados hábitos já apontados. Mesmo que o pai não esteja, o menino tem a sua cama, que a mãe fará sentir como é agradável ter uma caminha tão bonita, saber contar-lhe histórias infantis consoante a idade, onde os sentimentos nobres começam a ter valor na mente da criança, e onde outros meninos e meninas, animais, jardins e bosques fazem parte da vivência infantil que a mãe cria com carinho, com fins didáticos e formativo, mas que aliciam a criança. Um tempo que se deve dedicar, pois antes de adormecer é o que ficará no inconsciente mais profundamente marcado. Todos estes princípios e muitos mais que poderia citar ao longo do crescimento da criança conduz a uma educação sexual em que o complexo de Édipo é perfeitamente ultrapassado!

A infelicidade é indubitavelmente com freqüência filha da ignorância mesclada com fracassos sentimentais e carências profundas de afeto, o alimento essencial a uma melhor saúde psíquica

Vocabularios Freudianos, Psicose


O que é Psicose?

São várias as tendências de reflexão sobre a Doença Mental, notadamente sobre as Psicoses que, embora provenientes de diversos momentos históricos do pensamento psicológico, estimulam bastante as discussões sobre o tema.

Temos o modelo Sociogênico, no qual a sociedade, complexa e exigente, é a responsável exclusiva pelo enlouquecimento humano. Temos também o modelo Organogênico, diametralmente oposto ao anterior, onde os elementos orgânicos da função cerebral seriam os responsáveis absolutos pela Doença Mental.

Tem ainda o enfoque Psicogênico, onde a dinâmica psíquica é responsável pela doença e subestimam-se as disposições constitucionais. Há ainda o modelo Organodinâmico, que compatibiliza todos três anteriores, onde participariam requisitos biológicos, motivos psicológicos e determinantes sociais. Na realidade esse modelo é mais conhecido como Bio-Psico-Social

Tem sido quase unanimemente aceito na psiquiatria clínica a associação de determinadas configurações de personalidade predispostas e a eclosão de psicoses. Estas personalidades são as chamadas Personalidades Pré-mórbidas, cujo conceito é abordado neste trabalho no capítulo sobre os transtornos da Personalidade; constituições que por si transtornam a vida do indivíduo ou incapacitam um desenvolvimento pleno, ou ainda, em certas circunstâncias, encerram uma maior aptidão para o desenvolvimento de determinadas doenças psíquicas.

A Constituição (Personalidade) Pré-mórbida é considerada pela psicopatologia como uma variação do existir humano e traduz uma possibilidade mais acentuada para o desenvolvimento de certa vulnerabilidade psíquica. Aqui o termo “possibilidade” deve ser considerado em toda sua plenitude, ou seja, um caráter não-obrigatório mas que deve ser levado muito a sério.

Clinicamente e grosso modo, podemos dizer que as neuroses diferenciam-se das psicoses pelo grau de envolvimento da personalidade, sendo sua desorganização e desagregação muito mais pronunciadas nas psicoses.

O vínculo com a realidade é muito mais tênue e frágil nas psicoses que nas neuroses, nestas a realidade não é negada mas vivida de maneira mais sofrível, valorizada e percebida de acordo com as lentes da afetividade e representada de acordo com as exigências conflituais.

Já nas psicoses, alguns aspectos da realidade são negados e substituídos por concepções particulares e peculiares que atendem unicamente às características da doença.

A sintomatologia psicótica caracteriza-se, principalmente, pelas alterações ao nível do pensamento e da afetividade e, conseqüentemente, todo comportamento e toda performance existencial do indivíduo serão comprometidos. Na psicose o pensamento e a afetividade se apresentam qualitativamente alterados, tal como uma novidade cronologicamente delimitada na história de vida do paciente e que passa a atuar morbidamente em toda sua performance psíquica.

Essa alteração confere ao paciente uma maneira patológica de representar a realidade, de elaborar conceitos e de relacionar-se com o mundo objectual. Não contam tanto aqui as variações quantitativas de a percepção do real, como pode ocorrer na depressão, por exemplo, mas um algo novo e qualitativamente distinto de todas nuances anteriormente permitidas, um algo essencialmente patológico, mórbido e sofrível.

* Fonte: Ballone GJ – Psicoses – in. PsiqWeb Internet, disponível em Psicoses, revisto em 2005. Adaptação de Alexandre Yamazaki. Para mais informações visite o site.

Vocabularios Freudianos, Neurose



O que é Neurose?

A palavra “neurótico”, da maneira como costuma ser usada hoje, tem sentido impróprio e pode ser ofensivo ou pejorativo. Pessoas que não entendem nada dessa parte da medicina podem usar a palavra “neurose” como sinônimo de “loucura”. Mas isso não é verdade, de forma alguma.

Trata-se de uma reação exagerada do sistema nervoso em relação a uma experiência vivida (Reação Vivencial). Neurose é uma maneira da pessoa SER e de reagir à vida. A pessoa É neurótica e não ESTÁ neurótica.
Essa maneira de ser neurótica significa que a pessoa reage à vida através de reações vivenciais não normais; seja no sentido dessas reações serem desproporcionais, seja pelo fato de serem muito duradouras, seja pelo fato delas existirem mesmo que não exista uma causa vivencial aparente.

Essa maneira exagerada de reagir leva a pessoa neurótica a adotar uma serie de comportamentos (evita lugares, faz atitudes para alívio da ansiedade… etc).

O neurótico, tem plena consciência do seu problema e, muitas vezes, sente-se impotente para modificá-lo.
Exemplos:
1 – Diante de um compromisso social a pessoa neurótica reage com muita ansiedade, mais que a maioria das pessoas submetidas à mesma situação (desproporcional). Diante desse mesmo compromisso social a pessoa começa a ficar muito ansiosa uma senana antes (muito duradoura) ou, finalmente, a pessoa fica ansiosa só de imaginar que terá um compromisso social (sem causa aparente).
2 – Num determinado ambiente (ônibus, elevador, avião, em meio a multidão, etc) a pessoa neurótica começa a passar mal, achando que vai acontecer alguma coisa (desproporcional). Ou começa a passar mal só de saber que terá de enfrentar a tal situação (sem causa aparente).

O que não é Neurose?

Como vimos, a Neurose é uma doença, uma doença emocional, afetiva e da personalidade. Logo, Neurose não é:

- Falta de Homem (ou de Mulher)

- Falta de pensamento positivo

- Cabeça ou mente fraca

- Falta de vontade

- Falta de ter o que fazer

- Ruindade ou maldade

- Sem-vergonhice

- Influência espiritual

- Mal-olhado ou encosto

- Coisa “de sua cabeça” (isso é caspa)

- Falta de ter passado por dificuldades de verdade (isso é azar)

- Por nunca ter passado dificuldades

- Falta de uma boa surra

- A “gente é que permite”

- Conseqüência de ter tido de tudo na vida

- Conseqüência de não ter tido nada na vida

- Porque o pai brigava com a mãe

- Porque o pai separou da mãe

- Porque o pai era enérgico

- Porque o pai era omisso

- Porque não teve pai

- Porque a mãe era protetora

- Porque a mãe era omissa

- Porque não tinha mãe

- Porque soube que a mãe não era essa

- Porque “forçou demais a cabeça”

- Porque nunca “teve que forçar a cabeça”

- Porque a menstruação subiu para a cabeça

- Finalmente, porque misturou manga com leite…

A Neurose é uma Doença Mental?

Não, a Neurose não é sinônimo de loucura, assim como também, a pessoa neurótica não apresenta nenhum comprometimento de sua inteligência, nem de contato com a realidade. Seus sentimentos também são normais. Eles amam, sentem alegria, tristeza, raiva, etc., como qualquer pessoa.
A diferença entre uma pessoa neurótica e uma normal é em relação à quantidade de emoções e sentimentos e não quanto à qualidade deles. Os neuróticos ficam mais ansiosos, mais angustiados, mais deprimidos, mais sugestionáveis, mais teatrais, mais impressionados, mais preocupados, com mais medo, enfim, eles têm as mesmas emoções que todos nós temos, porém, exageradamente.
A Neurose, portanto, não é uma doença mental é, sobretudo, uma doença da personalidade.
De modo geral, e didaticamente, as neuroses costumam ser classificadas através de seu sintoma mais proeminente. Isso não significa que todas elas possam ter uma série de sintomas comuns (todas têm ansiedade, por exemplo).
Um dos tipos mais comuns, hoje em dia, é aquele cujo sintoma proeminente é a fobia (medo patológico), juntamente com ansiedade.
O Transtorno Fóbico-Ansioso é uma neurose que se caracteriza, exatamente, pela prevalência da Fobia entre outros sintomas de ansiedade, ou seja, um medo anormal, desproporcional e persistente diante de um objeto ou situação específica.
Dentro dos quadros fóbicos-ansiosos destacam-se três tipos:
1 – Agorafobia (medo fóbico de lugares específicos);
2 – Fobia Social (medo de ser avaliado por outras pessoas) e;
3 – Fobia Específica (medo fóbido de determinados objetos).

O Transtorno Ansioso é outro tipo de Neurose.
Os padrões individuais de Ansiedade variam amplamente. Algumas pessoas com ansiedade neurótica podem ter sintomas cardiovasculares, tais como palpitações, sudorese ou opressão no peito, outros manifestam sintomas gastrointestinais como náuseas, vômito, diarréia ou vazio no estômago, outros ainda apresentam mal-estar respiratório ou predomínio de tensão muscular exagerada, do tipo espasmo, torcicolo e lombalgia. Enfim, os sintomas físicos da ansiedade variam de pessoa para pessoa. Psicologicamente a Ansiedade pode monopolizar as atividades psíquicas e comprometer, desde a atenção e memória, até a interpretação fiel da realidade.
Os Transtornos Histriônicos (Histéricos) são neuroses onde o sintoma principal é a teatralidade, sugestionabilidade, necessidade de atenção constante e manipulação emocional das pessoas ao seu redor. O neurótico histérico pode desmaiar, ficar paralítico, sem fala, trêmulo, e desempenhar todo tipo de papel de doente. Há grande variedade nesse tipo de neurose.
Os Transtornos do Espectro Obsessivos-Compulsivos reúnem neuroses cujo sintoma principal é a incapacidade de controlar manias e rituais, assim como determinados pensamentos desagradáveis e absurdos.
Incluimos a Distimia nessa classificação como representante da neurose cujo sintoma mais proeminente é a tendência a reagir depressivamente à vida, ou seja, é a pessoa com tendência à longos períodos de depressão.

A Neurose tem cura?

Antigamente se pensava que a neurose era sempre incurável e que se convertia, com o tempo, numa doença crônica e invalidante. Hoje em dia, felizmente, as pessoas que sofrem deste transtorno podem recuperar-se por completo e lavar uma vida normal como qualquer outra pessoa.
A questão da cura das neuroses, que é uma doença da personalidade, deve ser comparada à diabetes, pressão alta, miopia, reumatismo, alergia, asma e uma grande série de outras doenças. As pessoas portadoras dessas doenças, assim como os neuróticos, teriam uma péssima qualidade (e quantidade) de vida se não fossem os recursos da medicina.
A rigor, para as neuroses, recomenda-se um acompanhamento psicológico adequado, associado ao tratamento médico (com medicamentos) quando necessário, juntamente com a cooperação apropriada do próprio paciente e da sua família. Com essa conduta, felizmente, a grande maioria das neuroses podem ser perfeitamente controlada, proporcionando ao paciente uma melhor qualidade de vida e inegável bem estar.
Em casos mais graves a medicação é inevitável, normalmente quando há componentes depressivos e ansiosos graves.

A família pode causar a neurose?

Sim e não! Essa resposta depende da família e do neurótico. Para entender melhor essa questão, vamos comparar a neurose com a alergia. Vamos considerar uma pessoa com rinite alérgica e que, ao entrar em contacto com um ambiente embolorado, manifesta sua rinite. Esse exemplo é muito didático.
Perguntamos: o fungo do bolor (a família), é a causa da rinite alérgica (neurose)???
Para haver a rinite alérgica é preciso 2 coisas; que a pessoa seja alérgica previamente, e do fungo. Entretanto, para essa, para essa crise de rinite, precisamente, o fungo foi indispensável. Mas isso não quer dizer que a pessoa não possa, um dia qualquer, ter a rinite sem o fungo, assim como, não ter a rinite apesar do fungo. Dependerá de como está sua imunidade (analogamente, seu humor ou afetividade) naquele dia.
O mais correto, agora, é dizer que o fungo (família) pode desencadear, agravar ou proporcionar condições para uma crise alérgica aguda (uma reação neurótica), mas não é a causa exclusiva.
Da mesma forma, podemos dizer que para desenvolver uma neurose é preciso uma certa vulnerabilidade emocional e, para que esta se manifeste em sua plenitude, é preciso uma vivência desencadeadora.

A Neurose é herdada?

Em primeiro lugar convém fazer uma distinção entre o que é genético, o que é constitucional e o que é hereditário:
1) Se uma doença é Genética, isso quer dizer que antes de nascer uma pessoa pode ter um gene ou uma programação que a conduza em direção à doença, mas em forma de probabilidade e não de certeza.
Cada um de nós carrega genes de diferentes doenças mas não as desenvolvemos obrigatoriamente. Um exemplo claro disso é o câncer de pulmão, identificado em genes de pessoas sadias não fumantes. Uma pessoa que tenha este gene teria uma predisposição genética a desenvolver a doença, mas isso não quer dizer que esta pessoa vá desenvolvê-la obrigatoriamente. De fato, se não fumar, levar uma vida não estressante, enfim, se não cumprir os requisitos necessários ao desenvolvimento da doença não terá câncer de pulmão.

2) É Constitucional a doença que faz parte da pessoa, sem necessariamente ter sido genética ou hereditária.

Constitucional significa ter nascido assim ou ter adquirido para sempre. Se a pessoa nasceu surda, essa surdez é constitucional, sem necessidade de ser genética.

As marcas de vacina que alguns têm nos braços, podemos dizer que são constitucionais (fazem parte da pessoa) mas não foram herdadas. Antes disso, foram adquiridas em tenra idade e não desapareceram mais.

3) Uma doença Hereditária é uma doença genética que se transmitirá, com certeza, de uma geração a outra e, além disso, terá uma porcentagem fixa e calculada de novos casos da doença na geração seguinte.
Um exemplo de uma doença hereditária é a Coréia de Huntington. Esta doença crônica supõe um degeneração corporal e mental que se passa de uma geração a outra, desenvolvendo-se em 50% dos filhos. Quer dizer que um paciente de Huntingtom que decide ter um filho sabe, de antemão, que a cada dois filhos que nascerem, no mínimo um desenvolverá a enfermidade.
Até o momento, podemos considerar as Neuroses de natureza Constitucional e, algumas vezes, Genética.

Qual a importância social das neuroses?

As neuroses são, indubitavelmente, o contingente mais importante de pacientes que procuram ajuda de psicólogos e psiquiatras. Seu quadro é extremamente variado, indo dos problemas psicossomáticos, sexuais, depressões, angústia, insônia, etc, etc.
As neuroses interferem e estão presentes também nos problemas de aprendizagem, no desenvolvimento da personalidade, no fracasso escolar, nos conflitos familiares e nas crises conjugais.
A psiquiatria considera as neuroses transtornos menores, em relação às psicoses. Isso se deve ao fato do neurótico conservar, de alguma maneira, critérios de avaliação da realidade semelhantes às pessoas consideradas normais.
Entretanto, ao falarmos em “transtorno menor”, não estamos nos referindo a algum critério de prognóstico. O mais comum é que a neurose tenha um curso crônico e, não tratada, pode até levar a algum grau de incapacidade social e/ou profissional.

*Fonte: Ballone GJ – Transtornos do Espectro Impulsivo-Compulsivo – in. PsiqWeb Internet, disponível em http://www.psiqweb.med.br/, revisto em 2005. Adaptação de Alexandre Yamazaki. Para mais informações visite o site.